"O comércio dos amuletos 'mágicos' - os lenços e aventais de Paulo" (Pr. George Antonio)

Tocar em determinados assuntos em nossos dias, sobretudo onde a doutrina da prosperidade tem larga e apaixonada aceitação, é assumir o risco de ser visto como alguém incrédulo. Mas sei que ainda existem, em nossos dias, crentes como os irmãos de Beréia (Atos 17.11).
Como disse Jesus: “A minha Casa será Casa de oração. Porém vós a transformastes num covil de estelionatários!” (Lucas 19.46 – KJA). Como nos dias de Jesus, hoje a Casa de Deus virou um verdadeiro balcão de negócios, com raras exceções. É um verdadeiro covil de estelionatários. Os bons de lábia enganam e são enganados. Além dos ardis, citados anteriormente, para surrupiar o dinheiro do povo, agora fabricam amuletos mágicos para serem comercializados no altar. A diferença está apenas no nome - chamam de objetos consagrados. A propaganda é grande: foram 10 dias de jejuns, 3 dias no monte, foram tantos pastores que oraram, e por aí vai. Estes argumentos são tremendos, e diante de uma platéia carente e necessitada, não fica nenhum de fora. Tudo é vendido. São chaves de ouro para abrir porta financeira, toalhinhas ungidas que curam, mantos carregados de unção, corredores consagrados, portas de madeira com poderes miraculosos, etc. Umas igrejas fabricam 12 portas de madeira, para o povo, enfileirado, passar por dentro. Outras fazem 24, e por aí vai. Os mantos variam, uns chegam a ter mais de 30 metros de comprimento. São muitos objetos; eles variam de acordo com a criatividade dos líderes. Quando lêem algo na Bíblia, logo relacionam e criam, e aí vira festa...

Meu povo foi destruído por falta de conhecimento” (Oséias 4.6).

“Pois desejo misericórdia, e não sacrifícios; conhecimento de Deus em vez de holocaustos” (Oséias 6.6).
Alguém pode até dizer: Ah, irmão, mas Fulano tocou a toalhinha no doente e ele foi curado! Outro ainda pode dizer: Eu toquei no manto sagrado e o mal saiu!  Falaremos disto agora, não tenha pressa, apenas pegue sua Bíblia e confira comigo alguns textos. Lembre-se, Deus quer que o conheçamos, mas que prossigamos na busca do Seu conhecimento (Oséias 6.3).
Os que comercializam estes ‘objetos consagrados’ usam como defesa a própria Bíblia. Mas texto sem contexto pode, na maioria das vezes, resultar em heresia.
A Bíblia registra algumas manifestações de poderes miraculosos por intermédio de objetos usados por homens de Deus. Não sei se você já presenciou, mas já presenciei um jovem pregador lançar seu paletó sobre uma jovem e ela ser batizada no Espírito Santo, instantaneamente. Da mesma forma, alguns ao serem tocados pelo paletó do homem de Deus receberam a cura, mas não vimos o pregador vendendo o “paletó consagrado” ou pedaços deste.
Estes casos acima tive o cuidado de conversar com as pessoas que receberam tais ministrações, e houve realmente a manifestação do poder de Deus. Continue lendo, mas lembre-se de que o Senhor não vai deixar de manifestar seu poder sobre alguém que crê e o honra só porque alguém, que não tem temor no coração, pode torcer a palavra ou transferir a glória de Deus a objetos materiais.
Sobre o ministério de Paulo, a Bíblia revela que ... até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam (Atos 19.12). O mover de Deus era tão grande nos primeiros dias da igreja que as pessoas levavam os doentes em macas para que, passando Pedro, pelo menos a sombra deste se projetasse sobre alguns deles (Atos 5.15). Lendo alguns livros da evangelista Kathryn Kuhlman, observei que pessoas eram curadas dentro do ônibus, antes mesmo de chegarem ao local das reuniões; outras eram curadas dentro do auditório, mesmo antes da evangelista chegar. Acontece que, em tempos de grandes avivamentos, quando há um fluir abundante do poder de Deus, simples palavras provocam e atiçam a fé das pessoas, que são curadas instantaneamente, sem nem mesmo ministrações de obreiros consagrados. Quando Deus revela seu poder ao povo, este acorda para realidades sobrenaturais da fé, bastando pequenos objetos ou simples palavras para que o milagre encontre espaço. Lembre-se que Jesus disse que a fé move e remove monte e não haverá nada impossível. Isto ESTÁ ESCRITO! (Leia Mateus 17.20).
Foi o que aconteceu nos tempos de Jesus e dos apóstolos, e continua hoje. Lembra da mulher do fluxo de sangue? A fé que aquela mulher tinha em Jesus era tão viva que pensou: não precisa Ele falar comigo, nem mesmo pedir ao Pai pela minha cura, basta eu tão somente tocar em sua roupa (Mateus 9.21). E assim aconteceu; a fé removeu um monte estabelecido há doze anos. Da mesma forma com os lenços de Paulo. O poder sobrenatural fluía pela vida dele e, conseqüentemente, pelas suas vestes, provocado pela fé do povo, para cumprir o que está escrito (I Coríntios 6.17).
Não é diferente com muitos ministérios de milagres que Deus tem levantado em nossos tempos. A fé das pessoas é “ativada” com simples palavras, toque de toalhinhas, peça de roupa e outros, mas comercializar estes objetos é ridicularizar o santo evangelho.
Não lemos que Paulo dava seus lenços ou aventais, foi o povo que lançou mão. Também não lemos que Pedro organizou filas de doentes para projetar sua sombra. O mandamento é: “Curem os enfermos, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios” (Mateus 10.8). Tiago escreveu: “orem uns pelos outros para serem curados” (Tiago 5.15), e também mandou orar com imposição de mãos e ungir com óleo o doente (verso 14).
Entendo o porquê de não haver ordenança, nem mesmo ensino acerca do uso de objetos consagrados para se obter cura ou milagre, exceto o óleo ungido. É simples. Se tenho um objeto que produz milagre, não preciso buscar o poder de Deus. Se tenho em mãos um lenço, chave, manto ou outro objeto consagrado, não preciso consagrar a minha vida, pois o objeto resolve meu problema. Por que não ensinar o povo a consagrar sua vida, exercer a autoridade espiritual e impor suas próprias mãos sobre os enfermos, conforme Jesus mandou? Dessa forma, o povo será levado a viver uma vida separada do pecado, evitará tocar no que é proibido, para poder ter em si o poder sobrenatural. Como disse, se tenho um objeto que opera tudo que quero, para quê tanto esforço para obter o poder divino?
Agora, se as Escrituras Sagradas nem mesmo nos orientam usarmos tais objetos na cura dos enfermos, quanto mais a comercialização deles. Embora o valor unitário destes “objetos consagrados” seja irrisório, os milhões vendidos resultam numa dinheirama incalculável. Eles usam o dinheiro para várias finalidades, até mesmo para promover o Reino de Deus, mas isto macula a imagem do Evangelho. Isto é mercadejar as bênçãos de Deus. Ele não exige, e nunca exigiu, dinheiro de alguém para curar ou realizar qualquer maravilha. Também com isso não quero dizer que tudo foi de graça. Para Deus operar curas e milagres em nossas vidas Jesus pagou um preço altíssimo. O profeta Isaías falou:

“... e pelas suas feridas fomos curados” (Isaías 53.5).
Entre as tantas e insondáveis belezas do Evangelho, uma ninguém pode esconder: o poder miraculoso para curar o doente, ainda que em estado terminal ou portador de mal incurável, não lhe custa a menor unidade monetária; é dado pelo infinito amor de Deus, personificado em Jesus Cristo. Há somente uma exigência: a fé. Louvado para sempre seja o nosso Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Todo louvor ao Espírito Santo, por nos ensinar estas coisas e torná-las realidades em nossas vidas!
Paulo viveu uma vida de privações e necessidades financeiras para vincular as bênçãos do Evangelho unicamente ao amor de Deus. Quanta maldição haverá para aquele que vincular as bênçãos do santo evangelho a interesses materiais!
            Este discurso belo e aparentemente piedoso de quem comercializa ‘objetos consagrados’, ainda que a preços irrisórios, afirmando que o valor exigido não corresponde à venda de milagre, é já uma tentativa de calar a voz gritante da consciência cristã, tanto de quem exige como de quem é exigido.

Texto extraído do livro "171 - Estelionato Espiritual", do Pr. George Antonio.