"O despreparo dos pastores (os 'Ungidos do Senhor') de hoje". (Pr. George Antonio)


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SEGUNDo capítulo
O despreparo dos pastores da igreja atual

         Lá vem o jovem Davi com seu cajado de pastor na mão; na linha da cintura um alforje pendurado. Entregou o queijo ao comandante e os grãos tostados e os pães para Eliabe, seu irmão. De troca ele recebeu uma puxadinha de orelha. Saul, convencido de que o garoto era uma arma nas mãos do Senhor, quis dar uma ajudinha.

“E vestiu a Davi da sua própria armadura, pôs-lhe sobre a cabeça um capacete de bronze, e o vestiu de uma couraça. Davi cingiu a espada sobre a armadura e procurou em vão andar, pois não estava acostumado àquilo. Então disse Davi a Saul: Não posso andar com isto, pois não estou acostumado. E Davi tirou aquilo de sobre si” (I Samuel 17.38,39).

         “Não estou acostumado! É pesada demais esta armadura! Não posso nem me mexer, quanto mais lutar!” Creio que você já ouviu um torcedor dizer que a camisa da seleção brasileira pesa. É comum ouvirmos isto no dia-a-dia entre os comentadores de futebol. É quando um jogador de um clube é convocado para a seleção brasileira e não consegue um bom desempenho, ainda que em seu clube seja um habilidoso jogador. “A camisa pesou”, dizem. Os comentadores querem dizer que não vale só a habilidade com as pernas. É preciso mais. É preciso, além do zelo e vontade, experiência; maturidade; prudência; preparo; muita responsabilidade. A ‘camisa’ era pesada para Davi. Já tinha matado leões e ursos, mas a armadura real era muito pesada. Ao colocá-la, não conseguiu andar. Arrastou-se por alguns metros e... Parecia um robô. Numa luta contra Golias, coitado! Podia mal erguer a espada. Era mais fácil ferir-se do que ferir o oponente. Foi-se a habilidade, a agilidade, a flexibilidade e a força.
         Davi ainda não era rei. Não estava preparado para o trono. Não tinha nenhum preparo para exercer tal cargo; por isso, não conseguiu nem andar. Não podia lutar com as armaduras de Saul. Era de Saul, não dele. Davi ainda deveria passar por um treinamento muito rígido, para então poder envergar uma armadura desta. Como não tinha preparo, apenas arrastou-se com aquela parafernália real. Não saía do lugar. É como vemos muitos líderes evangélicos hoje, arrastando-se com uma armadura ministerial que não lhes pertence ou que ainda não estavam preparados para usar. Outros cansaram com o peso da armadura. Não saem do lugar. Pesa muito! Ao manusearem suas armas, mais ferem os companheiros do que os inimigos. Alguns se feriram profundamente e vieram a óbito: óbito ministerial e, muitas vezes, espiritual.
         Revestidos com as armaduras de Saul, só enxergam como inimigos aqueles que lhes aconselham a tirar as armaduras, porque não lhes pertencem. Já parou para pensar que nem Saul nem nenhum israelita tiveram coragem de enfrentar Golias? Foram desafiados, humilhados e expostos ao mais deprimente ridículo, mas não tiveram coragem de enfrentar o gigante filisteu. Mas tiveram coragem de enfrentar aquele que matou o gigante. Há coerência de raciocínio nisto? Não se animaram para Golias, mas para Davi havia muitos pretendentes, inclusive Saul. Não enfrentaram o inimigo, mas o amigo... Já percebeu como muitos líderes estão de olho nos escolhidos do Senhor? Cuidado!
         Enfim, tudo isto nos mostra a necessidade do preparo. Hoje, para prejuízo da igreja, os nossos líderes espirituais são homens que, na maioria das vezes, tiveram o preparo de Saul. Lembra qual foi o preparo de Saul? Nenhum! Era um mimado filho de fazendeiro, “filhinho de papai”, que nunca passara por qualquer situação difícil na vida. Não conheceu caverna; não conheceu deserto; não conheceu perseguição; não conheceu necessidade, fome ou qualquer tipo de escassez. Não tinha experiência com Deus; não conheceu fracassos, decepções, angústias, dores ou traições. O nosso Salvador conheceu tudo isto. Por isso o aceitamos, com prazer, como nosso Bom Pastor.

“Era desprezado, e rejeitado dos homens; homem de dores, e experimentado nos sofrimentos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum... Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como a ovelha que é muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a boca” (Isaías 53.3,7).      

         Se você é um crente sofredor, mal compreendido, sempre enfrentando lutas, calúnias, difamações e injúrias, você pode estar dentro de uma academia, que chamo de Academia Espiritual de Treinamento de Ungidos do Senhor (AETUS). Os ungidos do Senhor conhecem cavernas e desertos (solidão e desprezo). Chegam épocas quando ninguém mais quer nos ouvir, as oportunidades desaparecem,  colocam você como rebelde, só porque você falou algumas verdades que precisavam ser ditas. Deus te leva a passar por situações difíceis porque deseja que você seja um obreiro maduro e completo, sem que falte virtude alguma.

“Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo o passardes por várias provações, sabendo que a aprovação da vossa fé produz a perseverança; e a perseverança tenha a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, não faltando em coisa alguma(Tiago 1.2-4 – grifo do autor).

Saul não passou por nada disto, por isto perseguiu Davi. Não tinha misericórdia de ninguém, nem mesmo dos que lhe ajudavam. Ele nunca precisou de uma ajuda amiga; não sabia o que era isto. Em sua vida sempre teve tudo e nunca precisou que alguém usasse de misericórdia para com ele. Seu dinheiro e posição lhe davam tudo que precisava. Em seu coração ainda habitava o orgulho humano de pagar por todo favor recebido, até mesmo se viesse do alto (I Samuel 9.7). Como Simão, o mágico, que mesmo depois de ter crido e sido batizado nas águas, ainda com o coração cheio de orgulho, acreditava que podia comprar tudo e todos, até mesmo o dom divino (Atos 8.18). Enfim, soldado que não conhece treinamento não pode ir à guerra. Saul foi à guerra, mas seus inimigos eram os que o ajudavam, eram os servos do Senhor.
         São duas as recomendações de Paulo a Timóteo que nossos líderes esqueceram.

“É necessário, pois, que o bispo seja... não neófito, para que não se ensoberbeça e venha a cair na condenação do diabo” (I Timóteo 3.2,6 – grifo do autor).

         Veja como diz a Bíblia Viva:

“O pastor não deve ser um cristão novato, pois poderia ficar orgulhoso de ter sido escolhido tão depressa, e o orgulho vem antes duma queda (a queda de Satanás é um exemplo)”.

         Esta é a primeira. Aqui precisamos analisar o contexto em que Paulo escreveu isto. Imagine uma igreja pastoreada por Timóteo e doutrinada por Paulo. Timóteo era jovem. Há quem diga que na época ele ainda não tinha 30 anos, mas conquistou a confiança de Paulo. Imagino como era bom cultuar o Senhor numa igreja como aquela. Fogo! Obreiros inflamados pelo fogo do Espírito Santo, profundamente conhecedores da doutrina e poderosamente impactados pelo poder do Senhor. Imagino a dificuldade de Timóteo num culto de domingo. Eram tantos pregadores, mestres, profetas, evangelistas! Tantos crentes dedicados! A quem dar oportunidade? Só o Espírito Santo para indicar um, ou uma. Com o crescimento da igreja era necessário consagrar mais obreiros. Aí começamos a entender os conselhos de Paulo. “Timóteo, não consagra obreiros neófitos...”. Segundo o Dicionário Teológico, de Claudionor Corrêa de Andrade, neófito vem do grego néos, novo + phylon, planta; literalmente: planta em crescimento. Recém convertido. Eram recém chegados na obra, mas não podemos compará-los com a maioria dos recém chegados de hoje em nossa igreja. Eram novatos de um nível intelectual notável. Muito zelosos e versados no conhecimento bíblico. Mas o Espírito Santo, que é o mais interessado em edificar sua igreja, nos diz que é necessário muito mais do que zelo e conhecimento teológico.
Dons espirituais ou quaisquer outras aptidões especiais não qualificam um crente a ingressar no ministério pastoral. Hoje, jovens obreiros com mensagens impactantes, cheios de conhecimento, são facilmente aprovados pela igreja para ingressar no ministério pastoral. Achamos que mensagens poderosas são credenciais para o ministério. Se não vigiarmos mais nisto, nós mesmos seremos os responsáveis pelo fracasso ministerial destes obreiros e pelas desgraças sofridas pelas igrejas pastoreadas por eles.
O preparo de Davi foi com erros e acertos, vitórias e derrotas, glórias e vergonhas, aplausos e vaias, fartura e escassez, alegrias e tristezas, reconhecimentos e decepções. É necessário muito mais que zelo. O ministério exige experiências de vida; maturidade espiritual; caráter. Infelizmente, o preparo exigido por muitas igrejas hoje é um curso teológico, razão pela qual nossas igrejas andam lotadas de teólogos.
O tempo, como veremos posteriormente, também é um fator importante no preparo de um líder. Como ajudar um jovem envolvido em conflitos internos, comuns de sua idade, se ainda não viveu experiências desta natureza? Não posso e nunca poderei entender o quanto alguém precisa de minha ajuda, se nunca precisei de uma mão amiga para me ajudar a vencer situações adversas (Hb 4.15). É por isso que o Senhor permite várias e complicadas situações na vida dos seus filhos, sobretudo na vida daqueles que têm chamada ministerial. Precisamos nos submeter ao treinamento do Senhor. “Timóteo, se o crente ainda não teve tais experiências, não tem qualificações para o ministério”....

Texto extraído do Segundo Capítulo do livro “Ungidos do Senhor: uns aprovados, outros rejeitados”, do Pr. George Antonio.